No coração de Paris, na margem direita do Sena, encontra-se o Palais Garnier, um dos edifícios mais emblemáticos da capital. Inaugurada em 1875, esta casa de ópera, que já assistiu a inúmeros espectáculos e gerações de artistas, simboliza o estilo arquitetónico da Belle Époque, combinando a arte barroca com elementos neoclássicos. Com o seu dourado brilhante, mármore multicolorido e tectos pintados, o Palais Garnier, vulgarmente conhecido como Opéra Garnier, é o cenário perfeito para ballets e outros espectáculos de ópera. Muito mais do que um teatro, é um local repleto de história e lendas. Vamos descobrir este monumento, que continua a fascinar pela sua grandeza e elegância intemporal.
Nascimento do Palais
Em meados do século XIX, a vida parisiense estava em plena agitação. Sob a égide de Napoleão III e do seu prefeito do Sena, Georges-Eugène Haussmann, a cidade de Paris sofreu grandes transformações. Estas remodelações urbanas, conhecidas atualmente como “obras haussmannianas”, tinham como objetivo modernizar Paris e torná-la uma metrópole de referência na Europa. A ópera, enquanto instituição cultural e símbolo de prestígio, precisava de uma nova casa à altura desta nova visão. A construção de uma casa de ópera grandiosa foi também uma forma de o Imperador Napoleão III aumentar a sua estatura entre a elite parisiense e europeia, bem como a sua segurança, após a tentativa de assassinato na Opéra Le Peletier em 14 de janeiro de 1858. Em 1861, foi lançado um concurso para a conceção do novo edifício. Charles Garnier, um arquiteto relativamente desconhecido na altura, ganhou o concurso. O projeto de Garnier impressiona pela sua majestade e modernidade. A construção do palácio começou em 1862 e foi concluída 14 anos mais tarde, em 1875. O projeto foi marcado por vários desafios, incluindo a descoberta de um lençol freático que levou à criação de um lago artificial subterrâneo, popularizado pelo romance de Gaston Leroux “Le Fantôme de l’Opéra”.
Fachada exterior
A fachada do Palais Garnier é uma mistura deslumbrante de opulência Beaux-Arts e estilo neo-barroco. Criado pelos maiores pintores e escultores da época, entre os quais o célebre Jean-Baptiste Carpeaux, é adornado com numerosas esculturas, colunas e frisos que celebram a música e as artes líricas. As numerosas estátuas, algumas das quais representam figuras alegóricas da poesia, da música ou da dança, parecem dançar no topo do edifício e nas suas saliências, dando vida à pedra. Os pormenores dourados, combinados com a pedra branca, captam e reflectem a luz, tornando o Palais Garnier particularmente deslumbrante ao sol parisiense. A entrada principal é dominada por uma imponente marquise de vidro e ferro forjado, sustentada por colunas coríntias, uma lembrança da tendência da época para a grandeza e a exuberância. A fachada do Palais Garnier não é apenas uma introdução à experiência teatral no interior, é um espetáculo em si mesmo.
A grande escadaria
O interior do palácio é tão impressionante como o exterior, e a grande escadaria é a prova disso. Verdadeira proeza técnica, esta escadaria é também uma obra de arte que testemunha a grandeza e o esplendor do estilo Beaux-Arts. Com os seus degraus de mármore branco, balaustradas de mármore de diferentes cores, estátuas douradas e lustres imponentes, esta escadaria oferece uma experiência grandiosa a todos os que entram. É uma festa para os olhos, com todos os pormenores, do chão ao teto, um testemunho de extremo requinte. A escadaria conduz aos vários foyers e galerias, todos eles construídos em mármore de várias cores: branco, verde e vermelho. As balaustradas são adornadas com esculturas douradas e querubins de bronze. Candelabros em forma de ninfas iluminam o espaço, criando uma atmosfera quase sobrenatural. A abóbada é adornada com mosaicos deslumbrantes que completam o espetáculo visual. É um lugar de transição entre o mundo exterior e o teatro. Ao subir a escadaria, os visitantes passam simbolicamente de um mundo secular para um mundo sagrado, o da ópera e da dança.
O auditório da Opéra Garnier
O auditório é também um feito arquitetónico e artístico. Concebida para acolher cerca de 2 000 espectadores, adopta a forma de ferradura tradicional das grandes óperas europeias da época. O vermelho e o dourado dominam a paleta de cores, criando uma atmosfera simultaneamente quente e majestosa. O teto, pintado por Marc Chagall em 1964, é uma obra-prima em si mesmo. Combinando modernidade e tradição, Chagall conseguiu dar nova vida à abóbada sem trair a essência do local. O seu teto ilustra várias cenas de óperas famosas, fundindo música e pintura num único quadro. A acústica da sala é tão impressionante como a sua estética. Graças ao seu design arquitetónico, cada nota ressoa com clareza e precisão, quer seja produzida por uma orquestra completa, um coro ou uma única voz. Esta perfeição sónica significa que o público, onde quer que esteja, pode ser envolvido pela música e desfrutar de uma experiência imersiva. Só as cadeiras deste auditório contam uma história – a história dos espectáculos, mas também da sociedade francesa do século XIX:
- Lugares na orquestra: Mais perto do palco, estes são os lugares mais cobiçados, oferecendo uma vista ininterrupta do espetáculo. Destinam-se a um público rico e privilegiado, uma vez que são os mais caros e os mais confortáveis.
- Os camarins : Emblemáticos da Opéra Garnier, os camarins privados oferecem privacidade e prestígio. São frequentemente associados à aristocracia e à burguesia do século XIX, uma vez que eram reservados aos que podiam suportar as despesas. Permitem que as pessoas não só vejam o espetáculo, mas também sejam vistas, reforçando o estatuto social dos seus ocupantes.
- O balcão e as galerias : Situados num nível superior, o balcão e as galerias oferecem uma perspetiva diferente do palco. Embora os lugares sejam mais baratos do que na orquestra ou nos camarotes, continuam a oferecer uma excelente vista, um testemunho do engenho arquitetónico da Garnier.
- O galinheiro : Localizado no topo da sala, o galinheiro é tradicionalmente onde se encontram os lugares mais baratos. Destinados à “gente pequena” de Paris, estes lugares permitiam aos membros menos abastados do público aceder aos espectáculos da Opéra. Apesar da distância do palco, a acústica impecável da sala garante uma experiência sonora de qualidade.
- Frente do palco : São lugares na frente do palco, geralmente reservados para VIPs ou convidados especiais. Oferecem uma experiência única, permitindo-lhe ver os artistas de perto.
O grande hall de entrada
Fazendo lembrar as galerias douradas de castelos renascentistas como Versalhes, o Grand Foyer tem quase 18 metros de altura, 54 metros de comprimento e 13 metros de largura. O conjunto é uma explosão de dourados, espelhos, candelabros e pinturas. O teto, decorado com frescos deslumbrantes de Paul-Jacques-Aimé Baudry, apresenta temas musicais e está rodeado de figuras alegóricas. Estas pinturas destacam a música como uma forma de arte central, fundindo diferentes influências, períodos e temas. As enormes janelas têm vista para a Avenue de l’Opéra e inundam o Grand Foyer de luz, fazendo brilhar a talha dourada e refletir o chão de parquet polido. O objetivo original do Grand Foyer era servir de espaço de descanso e de conversa durante os intervalos. Era o local onde a alta sociedade parisiense vinha para ver e ser vista, para trocar mexericos, forjar alianças e exibir a sua riqueza e prestígio. Nesta sala luminosa e opulenta, os espectadores podiam esticar as pernas, discutir o espetáculo ou simplesmente admirar a vista.
Nos bastidores da Opéra
Os bastidores são um verdadeiro labirinto de corredores, escadas, passagens secretas e salas escondidas. Estendem-se por vários níveis, alguns mesmo abaixo do nível da rua. No passado, estas áreas eram utilizadas para armazenar cenários e figurinos, bem como a maquinaria utilizada para mudar os cenários de um momento para o outro. Na cave da Opéra Garnier encontram-se máquinas de uma complexidade impressionante para a época. Plataformas elevatórias, sistemas de roldanas, escotilhas… tudo foi concebido para dar vida às maiores produções. Ainda hoje, a maioria destas instalações originais continua a ser utilizada, o que atesta o seu engenho. Longe das luzes da ribalta, os artistas refugiam-se nos camarins, pequenas salas dedicadas à preparação antes de cada espetáculo. É aqui que colocam a maquilhagem, o cabelo e os fatos, muitas vezes assistidos por um exército de figurinistas, maquilhadores e cabeleireiros.
As estrelas da dança do Palais Garnier
O título de “danseur étoile” é exclusivo do Ballet da Ópera de Paris. Refere-se à elite dos bailarinos, aqueles que atingiram o mais alto nível de perfeição na sua arte. Mas é mais do que um simples título: ser uma étoile é encarnar a excelência do ballet francês, ser um modelo para as gerações vindouras, levar o legado da Ópera de Paris a todo o mundo. A subida para este prestigiado título é longa e exigente. Desde muito cedo, os bailarinos ingressam na Escola de Dança da Ópera de Paris, onde recebem uma formação rigorosa. Com o passar dos anos, foram subindo na hierarquia do corpo de baile: quadrilheiro, corifeu, sujet, primeiro bailarino e, finalmente, bailarino étoile. Esta progressão é sancionada por concursos internos, audições e actuações em palco. Ser uma primeira bailarina não significa apenas destacar-se no palco. Significa também assumir responsabilidades fora do cenário. As estrelas são frequentemente chamadas a representar a Ópera de Paris no estrangeiro, a dar masterclasses, a participar em eventos de beneficência e a encorajar a nova geração de bailarinos.
Conclusão
Embora o Palais Garnier tenha deixado de ser o principal local de espectáculos da Opéra de Paris desde a inauguração da Opéra Bastille em 1989, continua a ser um local dedicado à música e à dança, nomeadamente ao ballet. Para além dos espectáculos, o Palácio está aberto à visitação, permitindo aos curiosos e aos apaixonados admirar o seu esplendor arquitetónico e conhecer melhor a sua rica história. Para além da sua função primária de teatro, o Palais Garnier é uma ode à arte em todas as suas formas. Verdadeiro testemunho da história cultural e arquitetónica de Paris, continua a surpreender os parisienses e os visitantes de todo o mundo, servindo para recordar a excelência artística e a ambição cultural da capital francesa.
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